SANYO DIGITAL CAMERANo dia 16 de fevereiro fez três anos que Sérgio Jockymann faleceu.

O fato foi pouco comentado na época, eis que estava afastado de nosso meio havia algum tempo. Encontrava-se residindo na cidade de Campinas, onde fazia tratamento de uma insuficiência renal crônica que, infelizmente, acabou vencendo-o. Morreu distante de sua terra e do Clube de seu coração, o S.C.INTERNACIONAL.

Tanto naquele momento, como nos dois anos subseqüentes, alusivos ao aniversário de sua morte, fugiu-me a oportunidade de fazer algum comentário a respeito. Porém, agora, ao completar o 3° ano, aproveitei para não deixar passar em branco mais uma vez.

Nutria por Jockymann grande admiração. Além de Jornalista, também era Escritor, Cronista, Poeta e Dramaturgo e, acima de tudo, um grande colorado. Também seguiu seus passos na Política, elegendo-se Deputado Estadual. Tentou mas não alcançou a Prefeitura da Capital.

Tinha na redação o seu ponto forte, com crônicas diárias em jornais, passando pelo Diário de Notícias, Folha da Tarde, ZH e Correio do Povo e em várias emissoras de rádio e televisão, entre as quais: Farroupilha, Difusora, Piratini, Gaúcha e Guaíba.

O que mais admirava em Jockymann era o seu perspicaz e aguçado senso crítico. Possuía enorme dosagem de humor e, com freqüência, salpicava seus comentários com ironia. Falava com tranqüilidade, sem nunca alterar o tom da voz. Era impassível nos debates, notadamente futebolísticos, causando, por vezes, até irritação de seus adversários. O Jornalista Paulo Santana que o diga naqueles celebres jornais do meio-dia da TV Gaúcha, lá nos idos anos 70, quando só dava INTER na cabeça e Jockymann deitava e rolava. Era um gozador por natureza.

E foi justamente naquele período, mais precisamente em dezembro de 1975, que veio a proporcionar um episódio inusitado.  Os colorados viviam a expectativa de ganhar o 1° título brasileiro e Jockymann, caso vencêssemos, comprometeu-se em não emitir uma só palavra, ficando somente a sorrir durante todo o seu espaço da 2° feira na TV. Concretizada a conquista sobre o Cruzeiro de Minas, lá estava Jockymann defronte as câmeras, mudo, com seu sorriso preparado de deboche, durante intermináveis cinco minutos. É claro que os colorados ficaram deliciados com o ocorrido, o que não deve ter acontecido  pelas bandas da Azenha.

 Num outro memorável episódio, o Jornalista Mendes Ribeiro, que possuía espaço antecedente ao de Jockymann na TV Gaúcha, em seu comentário enalteceu a beleza da mulher. Contudo, fazia restrição à virilha, dizendo que essa parte do corpo não acompanhava a beleza das demais partes femininas. Foi o que bastou para Jockymann arrematar em seguida ao afirmar que, para ele, a virilha não só era linda, como uma das partes mais sensuais da mulher, ainda mais porque era amiga e vizinha do que chamava “a curva da vida”. Foi o que bastou para soarem altos risos do pessoal de operação e demais colegas da TV.

Sua versatilidade cultural era grande, expressa em contos, romances, poesias, telenovelas, seriados de TV e peças teatrais.  E foi de sua autoria uma das grandes peças humorísticas que assisti, sob o título: “SE”, tendo por protagonistas: Renato Pereira e Tânia Carvalho, causando gargalhadas da platéia, do 1° ao último minuto.

E sobre seu amado INTER, jamais o deixara de lado. Não passava semana sem que comentasse algo a respeito. Foi o criador de um personagem humorístico, que tratava de um torcedor, que se tornou famoso em suas crônicas, ao qual chamava: “O Colorado Delirante”.

Foi num depoimento dado à Revista Placar, edição especial de 1984, “As Maiores Torcidas do Brasil”, em que proferiu a expressão de abertura do texto: “O INTER é minha alegria inocente”, que nunca mais esqueci. E na mesma entrevista ainda relatou os primeiros momentos de menino quando se tornou colorado. Emocionante!

Assim era Sérgio Jockymann. Tinha 80 anos quando faleceu, interrompendo sua trajetória pelos malfazejos do destino.

Poderia escrever bem mais e trazer outros relatos.

O mais importante, porém, foi saldar esse débito que mantinha comigo, não deixando passar em branco mais um aniversário de sua morte.

Sem dúvida foi um personagem marcante para os gaúchos, notadamente pelas crônicas feitas sobre o nosso quotidiano e legado cultural deixado. Ainda mais para os colorados, diante de sua paixão contagiante demonstrada ao Clube.

Que no outro plano continue mantendo seu animado espírito, com suas refinadas crônicas e o sempre vibrante entusiasmo ao nosso S.C.INTERNACIONAL.

E como dizia no fecho de seus comentários: “Pensem nisso enquanto lhes digo um até amanhã”.

Saudações Coloradas

Heleno Costi

7 thoughts on “SÉRGIO JOCKYMANN: “O INTER é minha alegria inocente””
  1. EMPRESA JORNALÍSTICA CALDAS JÚNIOR – PORTO ALEGRE – RIO GRANDE DO SUL – BRASIL – EDITORA DO JORNAL FOLHA DA TARDE – O VESPERTINO DO ESTADO

    – 2 – FOLHA DA TARDE 30 DE DEZEMBRO DE 1978

    SÉRGIO JOCKYMANN

    Os votos

    Pois desejo primeiro que você ame e que aman-
    do, seja também amado.

    E que se não o for, seja breve em esquecer e es-
    quecendo não guarde mágoa.

    Desejo depois que não seja só, mas que se for, sai-
    ba ser sem desesperar.

    Desejo também que tenha amigos e que mesmo
    maus e inconseqüentes sejam corajosos e fiéis.
    E que em pelo menos um deles você possa confiar
    e que confiando não duvide de sua confiança.

    E porque a vida é assim, desejo ainda que você
    tenha inimigos, nem muitos nem poucos, mas na me-
    dida exata para que algumas vezes você se interpele a
    respeito de suas próprias certezas.

    E que entre eles, haja pelo menos um que seja
    justo para que você não se sinta demasiadamente se-
    guro.
    Desejo depois que você seja útil, não insubstituível-
    mente útil mas razoavelmente útil.
    E que nos maus momentos, quando não restar mais
    nada, essa utilidade seja suficiente para manter você
    de pé.
    Desejo ainda que você seja tolerante, não com
    que os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com
    aqueles que erram muito e irremediavelmente.

    E que essa tolerância nem se transforme em aplau-
    so nem em permissividade, para que assim fazendo um
    bom uso dela, você dê também um exemplo para os
    outros.
    Desejo que você sendo jovem não amadureça de-
    pressa demais,
    e que sendo maduro não insista em rejuvenescer,
    e que sendo velho não se dedique a desesperar.
    Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor
    e é preciso deixar que eles escorram dentro de nós.

    Desejo por sinal que você seja triste, não o ano
    todo, nem um mês e muito menos uma semana,
    mas apenas por um dia.

    Mas que nesse dia de tristeza, você descubra que
    o riso diário é bom, o riso habitual é insosso e o riso
    constante é insano.

    Desejo que você descubra com o máximo de ur-
    gência acima e a despeito de tudo, talvez agora mes-
    mo, mas se for impossível amanhã de manhã, que exis-
    tem oprimidos, injustiçados e infelizes.

    E que estão à sua volta, porque seu pai aceitou
    conviver com eles.

    E que eles continuarão à volta de seus filhos, se
    você achar a convivência inevitável.

    Desejo ainda que você afague um gato, que ali-
    mente um cão e ouça pelo menos um João-de-barro
    erguer triunfante seu canto matinal.

    Porque assim você se sentirá bom por nada.

    Desejo também que você plante uma semente por
    mais ridícula que seja e acompanhe seu crescimento
    dia a dia, para que você saiba de quantas muitas vidas
    é feita uma árvore.

    Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro por-
    que é preciso ser prático. E que pelo menos uma vez
    por ano você ponha uma porção dele na sua frente
    e diga: Isto é meu.

    Só para que fique claro quem é o dono de quem.

    Desejo ainda que você seja frugal, não inteiramen-
    te frugal, não obcecadamente frugal, mas apenas usual-
    mente frugal.

    Mas que essa frugalidade não impeça você de abu-
    sar quando o abuso se impor.

    Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
    por ele e por você. Mas que se morrer, você possa
    chorar sem se culpar e sofrer sem se lamentar.

    Desejo por fim que,
    sendo mulher, você tenha um bom homem
    e que sendo homem tenha uma boa mulher.
    E que se amem hoje, amanhã, depois, no dia se-
    guinte, mais uma vez e novamente de agora até o pró-
    ximo ano acabar.

    E que quando estiverem exaustos e sorridentes, ain-
    da tenham amor para recomeçar.

    E se isso só acontecer, não tenho mais nada para
    desejar.

    Sérgio Jockymann – Os votos

    “Gostaria apenas de chamar a atenção para o fato de que o texto de Sérgio Jockymann é uma crônica e não um poema. A publicação original foi em prosa, não em versos.” (Comentário de Emilio Pacheco: http://torresbrum.zip.net/arch2011-11-01_2011-11-30.html#2011_11-22_14_29_41-8367841-0 )

    Clique aqui
    http://emiliopacheco.blogspot.com/2006/05/clique-para-ampliar.html para ver imagem da Folha da Tarde de 30 de dezembro de 1978 e texto do Sérgio Jockymann

    Sérgio Jockymann – Os Votos

  2. “PENSEM NISSO, ENQUANTO EU LHES DIGO, ATÉ AMANHÔ [SÉRGIO JOCKYMANN]

    ARMANDO TROVAJOLI – ROSSANA III
    http://www.youtube.com/watch?v=IrSczhojw3g

    LOCUTOR PADRÃO GUAÍBA COM SOM ESTÍLO GUAÍBA AO VIVO ANUNCIA – A SEGUIR SÉRGIO JOCKMANN NA GUAÍBA – OFERECIMENTO DE… ENTRA A TRILHA, ROSSANA, DA TRILHA DO FILME SETE HOMENS DE OURO – SÉRGIO JOCKMANN INICIA O COMENTÁRIO – “DAMAS E CAVALHEIROS MUITO BOA TARDE” – “POIS…” – SÉRGIO JOCKMANN CONCLUI O COMENTÁRIO – “PENSEM NISSO, ENQUANTO EU LHES DIGO, ATÉ AMANHÔ – ENTRA NOVAMENTE A TRILHA, ROSSANA, DO FILME SETE HOMENS DE OURO

  3. Bela homenagem, Heleno! Sem dúvida Sergio Jockymann foi um Colorado que sempre orgulhou toda a torcida. Colorados desse naipe deveriam ser eternos. Justa e linda tua homenagem. SC

  4. Grande Sergio Jockymann, eu era leitor assiduo de fantástico colorado, principalmente nas cronicas em que defendia o talento de Bráulio e do Colorando Delirante.

    Pensem nisso, enquanto lhes digo até amanhã!!!

  5. Bah! Heleno! Teu texto me levou aos tempos da infância e aquele “Pensem nisso enquanto eu lhes digo um até amanhã” é inesquecível! Ah anos 70, velhos tempos, pessoas mais simples e mais humildes, objetivos comuns, etc, etc, etc… quantas belíssimas lembranças, quantos títulos, quantas glórias e dentre tantas ter tido a oportunidade de ver e ouvir este grande colorado, Sérgio Jockyman! Que esteja na paz de Deus, acompanhando as jornadas do nosso Sport Club Internacional! SC

  6. Melo,
    Nem me lembrava das palavras da abertura, somente as de encerramento. Conseguiste reavivar aquelas expressões quando o grande Sérgio Jockymann iniciava seus comentários em alusão à torcida colorada.
    Bons banhos aí no RJ. Como meu cacife é menor, hoje tentarei passar o Mampituba rumo a Camboriú. E olhe lá!
    SC

  7. Alo voce, Heleno!
    Viajei nas tuas palavras, descrição perfeita. Tentando enriquecer teu texto se é que é possivel é que registro a abertura de seus comentários na rádio Guaiba: “-Pois meus caros irmãos de alegria, muito boa tarde”, dizia ele dirigindo-se a torcida Colorada.
    Diretamente do LEME, RJ Coloradamente, o correspondente
    Paulo Melo

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