Sei que é um assunto que pode causar alguma polêmica, mas não posso me furtar de focar. Sempre me questiono muito, por n razões, sobre a validade de “poupar” jogadores profissionais de futebol. Alguns são ardorosos defensores dessa prática, já outros aceitam, mas, no fundo, não concordam muito. Outros discordam frontalmente, meu caso. Vamos então para meus leigos argumentos.

Fazendo uma simples comparação com a esmagadora maioria dos trabalhadores brasileiros, que vive com o salário mínimo, um pouco mais, ou um pouco menos, ou até de “bicos” para sobreviver. Acorda as 03:00 horas da manhã, vai de ônibus apertado para o trabalho (quando tem), muitas vezes em pé,  viaja por 01 ou 02 horas, trabalha o dia inteiro, de segunda a sábado, conta o pouco de dinheiro que tem diariamente para colocar comida à mesa e fazer os pagamentos necessários (ônibus, contas de luz, água, medicamentos, aluguel e outros), fica horas aa fila do SUS para qualquer problema de saúde seu ou de algum familiar (sem saber se vai ou não ser atendido), fica muitas vezes dia e noite em fila para conseguir vaga em colégio público ou creche para seus filhos, corre o risco constante com a sua segurança e de sua família e entretenimento, férias ou lazer, nem pensar, pois são inacessíveis. Isso se repete dia a dia, mês a mês e ano após ano, sem esmorecer, na raça, enquanto tiver forças para sobreviver.

Um jogador de futebol, por outro lado, faz jus a altos salários, permitindo minimizar todas as influências negativas que afetam a vida de um trabalhador normal, possui todas as facilidades para desempenhar suas atividades no futebol, desde os locais de trabalho, disponibilização de alimentação em quantidade e qualidade inquestionáveis, acompanhamento permanente com cuidados especiais com a saúde física e mental, usufrui de locomoções e estadias de alta qualidade, possui horário de trabalho compatível com sua atividade (como se diz popularmente, de gente), férias anuais para o descanso merecido, inúmeras oportunidades de lazer e tantas outras coisas que valorizam sua atividade laboral.

Um jogador de futebol recebe hoje salários fora da realidade nacional e, por favor,  não me venham com o argumento que é uma minoria, pois hoje qualquer “pé rapado” recebe mensalmente, no mínimo, R$ 20.000,00 e ainda acha pouco. Se considerarmos os jogadores dos grandes clubes do futebol brasileiro, a variação salarial mensal vai de R$ 200.000,00 a R$ 1.300.000,00. Vejam não estou falando em expoentes ou exceções do futebol internacional. Não estou considerando valores de direito de imagem e de propagandas publicitárias. Novamente em uma simples comparação, R$ 20.000,00 é o salário mensal total de 20 trabalhadores e R$ 1.300.000,00 de 1.300 trabalhadores. Não estou aqui defendendo que os jogadores de futebol devem receber menos salário, muito pelo contrário, o que acredito é que o trabalhador brasileiro não pode ganhar tão pouco, pagando ingressos em jogos ou contribuindo com mensalidades e sustentar essa distorção aviltante. O que questiono é que ou alguém recebe muito, justo ou não, ou alguém recebe muito pouco, injustamente,  pelo fruto de seu trabalho.

Esse processo, inflacionário e absurdo, nas contratações e salários de jogadores, pode não ser um problema para clubes de países ricos europeus e asiáticos, mas, no Brasil, é uma afronta aos problemas nacionais e à desigualdade existente. Se existem razões aceitáveis para esses países ricos praticarem essa política, em nosso País, na realidade atual, deveria ser entendida como absurda e proibitiva. Para corroborar esse raciocínio, mesmo inflacionando as contratações e salários de jogadores no Brasil, isso não impede que os melhores deixem o País e vão jogar fora. Acredito que a prática do futebol no Brasil deveria ser repensada, pois da forma atual, o que estamos vendo nos últimos anos, essa política está destruindo o futebol brasileiro, não garante títulos internacionais por clubes nacionais ou, pior, até mesmo pela seleção nacional, hoje formada quase totalmente por jogadores que jogam no exterior.

Aceitando que esses argumentos acima possuem um fundo de verdade e representam uma amostra real da realidade, acredito que passou a hora de uma reavaliação do real valor do trabalho, considerando todas as atividades desenvolvidas no Brasil, pode ser na área esportiva, pública ou privada. Tenho absoluta certeza que, no futebol, as exigências de desempenho e os valores pagos a determinados jogadores é um verdadeiro absurdo e um escândalo em relação a realidade nacional.

Não precisa ser “expert” para saber que o preparo físico de um jogador suporta uma determinada carga por jogo e decresce a medida que desprende seu esforço. O desempenho de cada jogador se desenvolve em uma curva partindo de um ponto (preparado antes do jogo), cresce até um ponto superior (durante o jogo e onde consegue seu melhor desempenho físico) e depois decresce a medida que há desgaste e o jogo se desenvolve. Se ao final do jogo o seu estado físico passou de um ponto mínimo, houve um exagero de desgaste, possivelmente consequência de preparação física inadequada ou excesso de carga de trabalho. Hoje, essa ideia “maluca” que o certo no futebol, o moderno, é de todos os jogadores marcarem e atacarem pelo campo inteiro, somado ao excesso de faltas que os melhores jogadores recebem, sob a complacência dos árbitros, detona qualquer bom jogador, compromete seus desempenhos e acaba com o futebol arte, que sempre caracterizou o futebol brasileiro. Ninguém normal suporta essa carga excessiva sem consequências e, por essa e outras razões, vemos tantas lesões, tantos afastamentos e a valorização de jogadores, dito “obedientes taticamente”, praticando um futebol feio e brutalizado, em competições nacionais niveladas por baixo.

Se alguém discordar de minhas colocações, só me resta respeitar, mas, no meu leigo entendimento, “poupar” jogadores, com todas as facilidades que tem à sua disposição, para mim, é um absurdo, pois fazem parte de grupo de privilegiados, que só devem se preocupar em aprimorar suas qualidades, estar em campo e jogar (o resto, com certeza, tem gente se preocupando e resolvendo), sempre que as condições físicas, monitoradas permanentemente, permitirem. Considerando que jogadores também são gente e não máquinas, conhecendo e valorizando as áreas médicas dos clubes e o acompanhamento permanente físico individual , exceções para caso excepcionais e por ordem médica, defendo que os jogadores estejam disponíveis para todas as partidas do clube, valorizando o esforço, sacrifícios  e dedicação dos torcedores Colorados. Problemas pessoais, todos nós temos, lutamos para encontrar as soluções e para isso não ficamos nos lamentando ou pedindo para alguém resolvê-los.

Antônio Carlos Pauperio

By Antônio Carlos Pauperio

Sou apenas mais um dos simples torcedores do nosso INTERNACIONAL. Atualmente resido em Salvador, na Bahia, mas mesmo distante continuo sempre acompanhando e torcendo pelo sucesso de nosso Colorado e pela alegria da nossa torcida. Para acompanhar o que escrevo, fora do nosso blog, acesse o endereço http://discutindoavidanormal.blogspot.com

9 thoughts on “Dar a Cesar o que é de Cesar”
  1. Ilustre Paupério. Retorno somente para te parabenizar pela lisura do texto ao qual tenho muitas divergências. Assim, dentro do possivel iremos nos encontrando de acordo com a roda do tempo. Novamente, um grande abraço!

  2. “Considerando que jogadores também são gente e não máquinas, conhecendo e valorizando as áreas médicas dos clubes e o acompanhamento permanente físico individual , exceções para caso excepcionais e por ordem médica, defendo que os jogadores estejam disponíveis para todas as partidas do clube, valorizando o esforço, sacrifícios e dedicação dos torcedores Colorados. Problemas pessoais, todos nós temos, lutamos para encontrar as soluções e para isso não ficamos nos lamentando ou pedindo para alguém resolvê-los.” GRANDE PAUPÉRIO: TEU TEMA DÁ MARGEM PARA MUITAS DISCUSSÕES.
    Para essa premissa, s.m.j., NO MINIMO o calendário de cada certame deveria ocorrer com sete, SETE dias de intervalo entre uma partida e outra. jUSTIFICO: “jogadores também são gente e não máquinas,” logo, mesmo com a melhor das infraestruturas, o físico e o mental refletem o real humano. Como gostaria de estar contigo, com uma mesa redonda de bar nos separando e dois chopes gelados entre o silencio das palavras. Grande noite para nós e um grande Abraço!.

    1. Jaldemir, discordar faz parte de qualquer posicionamento, mas veja o que acontece com os grandes clubes do eixo Rio – São Paulo e com outros grandes clubes do mundo. Ninguém pratica esse absurdo de ter dois times e, olhe lá, são clubes muito mais ricos e com muito mais investimentos que o nosso Internacional. Procure observar a sequência de jogos e períodos de descanso em grandes competições, onde pode ser constatado que há um exagero nesses cuidados com os jogadores brasileiros nas competições nacionais. Não discordo que o calendário deve ser melhorado, pois os clubes são os maiores responsáveis por ele e não aceitariam menos jogos/receitas, mas, mesmo como a prática atual, não existe razão médica ou psicológica que justifique esses caras tratados a “pão de Ló”, sejam resguardados como tanta deferência. Hoje as áreas médicas, psicológicas, de preparação física e de nutricionismo, são muito eficientes w fazem um acompanhamento físico e mental muito desenvolvido, de forma que qualquer desvio é logo constatado e o jogador preservado. Vamos, com certeza, ter oportunidades de pessoalmente conversar sobre o texto que escrevi, pois tenho profundo respeito e admiração por você.

  3. Amigo Pauperio. Entendo o que escreveste, veio lá do fundo, foi o seu coração que falou. Tens razão, é desproporcional num País de Terceiro Mundo, jogadores de futebol , ganharem verdadeiras fortunas em 10, 12 anos de carreira. Postei algum tempo atrás , que jogador a nível de seleção, deveria ganhar no máximo cem mil reais por mês, mais os direitos de imagem. Mas o que se vê , a média gira em torno de oitenta mil reais, chegando naqueles “famosos” a beirar cifras acima de um milhão de reais Claro estamos falando dos times grandes, pois é nestas equipes é que se faz carreira, jogador de time pequeno, acaba tendo outra profissão,vide o futebol Gaúcho, onde os times do interior, jogam apenas seis meses por ano. Sobre “poupar” jogadores, é um assunto que vira debate. Um calendário mal feito, datas FIFA, interesse da Televisão e outros, obrigam as CT dos times , a fazerem rodízio em suas equipes, dependendo do interesse da Competição. Aqui uma observação. fui militar dos 18 aos 51 anos de idade. Fazia treinamento físico todos os dias, marchas, jogava peladas de domingo a domingo, já com mais de 40 anos,, como suportava esta carga.Vou responder, fazia por diversão, sentia prazer, era pura alegria e descontração. será que ser jogador profissional, muda tudo isso ? Abraço.

    1. Godoy, concordo contigo, o que não dá para entender é como existem jogadores de alyo nível, por que não dizer esportistas de alto nível, que são exigidos todos os dias e por várias horas, e não “estouram” ou se esgotam fisicamente. A única diferença é que usufruem de uma vida regrada pelos bons costumes, amam o que fazem e são profissionais de verdade.

  4. Grande Soteropolitano no aniv de Salvador e no de Porto Alegre.
    saudo nobre Amigo aqui de Ilhéus BA , concordo com vos o problema é nossos propios clubes que fazem leilão e acabam superfaturando , eu penso que deveria exiatir um teto estudar uma melhor maneira ,pois sao cifras absurdas que os propios clubes se comprometem e depois afundam em dividas . abço. Fioravante Ilheus BA

    1. Everson, que bom ler teu comentário. Nós que estamos longe de nossa terrinha, gaúchos vivendo na Bahia, onde somos muito bem tratados, mas mantemos nossas raízes no rincão e tradições dos pampas, temos no Internacional um dos elos importantes de nossas vidas. Você está certo quando coloca a principal origem desse absurdo nos clubes, mas acredito que também as federações regionais de futebol e a nacional são as principais responsáveis pela manutenção desse estado de coisas. Cabe as federações regrar a prática construtiva e crescente do futebol no País, assim como de todos os esportes, como forma de incentivar e participar efetivamente na formação de nossos jovens.

  5. Paupério, belo texto, eu acrescentaria que na maioria das vezes ou quase na totalidade os jogadores são semi analfabetos(o que é muito dificil hj, mas tem), um médico rala, estuda, tem um compromisso com a vida e muitas vezes ganha nem a metade do que ganha um jogador incial da dulpla, estes dias atrás li que Matheus Henrique do co-irmão ganha 50 mil por mês, o guro com 17,18 anos já ganhando isso, uns irão dizer que a carreira do jogador é curta, mas em um ano ele vai ganhar sem contar o décimo e bixo (coisa que não deveria existir, bixo por vitória, afinal recebe mensalmente)600 mil por ano ()ele), invista, claro se torrar tudo vai morrer pobre, mas invista; Outra tem pré-temporada em hotéis luxuosos pq?? Não é pra se preparar pra temporada??? Jogar duas vezes por semana não mata ninguém. ATÉ ACHO QUE UM TETO SALARIAL DEVERIA EXISTIR NO FUTEBOL, 30 conto por mês tá bom demais, pra quem não tem estudo nenhum.Outro dia comentei que era caro ir a um jogo, aí alguém me disse que futebol custa caro, sim com estes salarios extratosféricos só pode ser .Fiz a conta e nãpo vou entrar no mérito se merece ouu não, D’Alessandro o que ele ganha num ano, tem trabalhador que tem que trabalhar tres vidas ou seja nascer trabalhando morrer lá pelos 80 anos e não ganha o que o cara ganha, por isso que ABOMINO brigas de torcida por causa desses boleiros.

    1. Vanderlei, esse também é meu raciocínio. Valorizo a qualidade de determinados jogadores, mas como você, discordo que essa valorização seja exagerada desde as categorias de base e que muitas vezes só servem para enriquecer empresários e muito pouco de retorno ao clube.

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